terça-feira, 29 de novembro de 2011

Orquestra de Câmara Goyazes e a viola caipira de Roberto Corrêa

por: Élider DiPaula e Robervaldo Linhares

    A Orquestra de Câmara Goyazes, no dia 24 de novembro, apresentou o Terceiro Concerto da Temporada 2011, no Teatro Escola Basileu França com o violeiro convidado Roberto Corrêa. O concerto, dividido em três partes, iniciou com a orquestra em notável interpretação de Fuga e mistério, de Astor Piazzola, e as Cinco Miniaturas Brasileiras, de E. Villani-Côrtes. Arcadas sincronizadas, variações de dinâmicas indiscutíveis e a regência sem exageros de Eliseu Ferreira foram consequências marcantes do domínio musical apresentado nessa primeira parte do concerto.
       Na segunda parte, apenas para viola, Roberto Corrêa esbanjou um cuidado sonoro ao frasear as belas passagens da famosa Saudades de Matão, de J. Galate, R Torres e A. Silva, considerado, como ele mesmo pontuou, um “clássico” do repertório caipira brasileiro. Nessa mesma parte solo do concerto, de forma inovadora, o violeiro nos apresenta um instrumento característico da região pantaneira, a viola de cocho; despertando a todos uma curiosidade que instantaneamente é saciada pela virtuosidade e domínio do instrumento peculiar do qual o carismático intérprete dedilhava.
      O violeiro e a orquestra dividiram a terceira e última parte. Em face do alto nível musical dos intérpretes, acreditamos que o público esperava, neste momento, um pouco mais da ambiência da sala de concerto, o que poderia ter revelado interessante diálogo entre dois campos de fazer musical, o erudito e o popular. Todavia, o que se ouviu foram arranjos em que a orquestra fazia um background sonoro para a viola, privando-nos de ouvir um diálogo mais eficiente entre a erudição tão peculiar da Orquestra de Câmara Goyazes e as sonoridades matutas e bem realizadas de Roberto Corrêa, considerado, em nossos dias, como o maior violeiro do mundo. O concerto presumido ao fazer musical desvinculado ou mesmo com apenas colagens de erudito e popular, apresentou, nessa terceira parte, um repertório desfavorável ao idioma da viola. Não que a viola caipira não possua um repertório que possa vir a ser considerado erudito e ideal para as salas de concertos, mas a escolha dessa terceira parte descaracterizou o popular e o informal do repertório, em prol de um embrião ainda não resolvido, em termos artísticos, que dê conta de integrar e expor o diálogo com as diversas formas de fazer música. Importante que se diga que o diálogo aqui proposto apareceu, ainda que de forma tímida, na composição Peleja de siriema com cobra - para viola de cocho, de Roberto Corrêa, em arranjo de João Egashira.
     O concerto foi inovador pelo fato de ter um caráter experimental, mesmo que em reincidência - cita-se Villa-Lobos, Camargo Guarnieri e outros compositores adeptos, se não ativistas, dessa integração - e ou imaturo pela consciência e intenção de um concerto de música popular em roupagem erudita em vias de amadurecimento, mas que, neste concerto, ainda não se mostrou plenamente satisfatória.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Manifestações no Concerto da Orquestra Sinfônica de Goiânia sob regência de Paulo Rowlands


por: Élider DiPaula

          Introduzindo minha resenha, em clamor, gostaria de esclarecer ao público, que, se ainda por falta de noção não prestam ao conhecimento de que: crianças menores de 12 anos são bem-vindas, desde que, se educadas a se portarem corretamente e condizentes a uma sala de concerto. Como se não bastasse a terrível acústica do teatro e o ar condicionado murmurando durante toda a apresentação, uma criança muito deselegante conversava livremente durante o concerto; e mais, recebia respostas na mesma intensidade de seu responsável. Reflitamos sobre o distúrbio que essa falta de educação tem causado nas salas de concerto e, por favor, que essas pessoas encarecidamente pratiquem o senso óbvio.
          Novamente no Teatro SESI fui assistir a um concerto, que alias, mesmo com a acústica do jeito que está, o teatro recebe programações artísticas de segundo semestre para preencher a vida cultural da cidade e contrastar com o primeiro semestre ocioso da agenda cultural. Logo na entrada fui abordado por pessoas divulgando panfletos de manifestação aos recorrentes fatos sobre o coro da Orquestra Sinfônica de Goiânia, da qual o mesmo regente era convidado para conduzir a apresentação da noite, o Sr. Paulo Rowlands. O concerto foi tenso desde o início. Guardas municipais foram requisitados para vigiar os possíveis manifestantes.
          O Coro e a Orquestra Sinfônica de Goiânia sob a regência entusiasmada, talvez, histérica de Paulo Rowlands, iniciou o concerto com três peças corais de Joseph Haydn, acompanhadas de uma transcrição feita para a orquestra, seguida da Missa em Dó maior de Ludwig van Beethoven. Nada mais notório do que insistir no trabalho "lambão" ao qual essa orquestra tem sido submetida e ao desprezo que os talentosos cantores, alias músicos de tal confiança artística que são renomados em concursos e diplomados a nível superior, são guiados para um concerto desse nível. Apesar da falta de direção e orientação aos músicos, que alias provaram ser menos recessivos ao maestro - compara-se com a última apresentação da orquestra, começaram a apresentação em um nível de tragicidade aceitável, exceto pela monotonia e pelo despreparo da dicção do coro no idioma, do qual pude identificar somente ao ler o título das peças no programa. Um alemão incompreensível!
          Ao terminar o Haydn e receber as apreciações do público, Paulo Rowlands deixa o palco. Em seguida, ao voltar com os solistas da Missa em Dó maior de Beethoven, é surpreendido pelos manifestantes que, de pé em desleixo, se retratavam de palhaços. Utilizando adereços e narizes vermelhos e batendo, de forma irregular, pausadas palmas, os manifestantes foram reprimidos logo depois do incisivo olhar de desprezo que o Sr. Rowlands incitou aos dois guardas municipais lá presentes. Os guardas, utilizando a frase: "Vamos parar de atrapalhar a banda?", contiveram os manifestantes, do qual, em silêncio, utilizaram o sentido mais pejorativo da frase citada, em ignorância pelo guarda, para a reflexão.
          A missa, comissionada e rejeitada pelo príncipe Nikolaus II Esterházy, seria novamente um desapreço para Beethoven ao ouvir tal performance. Iniciou-se bem, o solo estonteante da soprano Vanessa Bertolini e o baixo Jadson Álvares mostraram suas competências logo ao início, no Kyrie. Seguidos de um Gloria em agógica infiel ao que o compositor explicita na partitura, o coro aos berros procurava um lugar na massa sonora em Fortissimo da orquestra. Assim recebemos o solo do tenor Vinícius Guimarães, ao qual transparecia insegurança. O próximo solo, que iniciaria o mais lindo diálogo dos solistas nessa obra, é subitamente despreparado pela contralto Tatiane Damaso, certificando a negligência ao rigor na seleção dos solistas. A solista cantando como uma corista e os coristas cantando como solistas, foi logo sucedido ao final do Gloria, sucumbindo com o que iniciara relativamente bem. 
          Ao inicio do Credo, em Allegro con Brio, o coro, sem observações imediatas do maestro, se manteve na mesma gritaria. No Adagio, os reais solistas lutavam para manter a afinação do quarteto e ainda, relutantes, tentávamos ouvir a contralto. Ao final do Credo, o fugatto esplandecia ao coro e depois aos solistas, não foi muito bem preparado, mas a escrita de Beethoven dizia por si mesma.
          O mais desastroso dos cinco movimentos foi este conseguinte Sanctus. A orquestra e o coro perdem o controle e retomam somente na entrada dos solistas, os quais ainda travavam a luta de afinação entre si. Para finalizar a missa, o Agnus Dei se mostrou melhor, mais intenso. A volta do texto Miserere - realizado antes no contraponto com a falha da contralto - se apresentou mais sólido e interessante; provocou-me temor e brio. No fim, o público já platéia, aplaudiam os solistas, o regente e os intérpretes, depois os manifestantes que saíam com seu adereços de reivindicação.
          Ao deixar a sala de concerto fui abordado por um som emitido em minha direção, uma interjeição com margem a outros sentidos, talvez ofensivos. Em conversa com essa pessoa gostaria, aqui, de me mostrar solidário e imparcial, citando e expondo meu idealismo como crítico. 
          "O provincialismo* consiste em pertencer a uma civilização sem tomar parte no desenvolvimento superior dela — em segui-la pois mimeticamente, com uma subordinação inconsciente e feliz.
          Para o provincialismo há só uma terapêutica: é o saber que ele existe. O provincialismo vive da inconsciência; de nos supormos civilizados quando o não somos, de nos supormos civilizados precisamente pelas qualidades por que o não somos. O princípio da cura está na consciência da doença, o da verdade no conhecimento do erro."
          Fernando Pessoa foi muito além do que palavras pudessem dizer. Ele definiu a nossa realidade hoje em Goiânia; onde pessoas nascem mudas, sobrevivem ao meio e morrem caladas, tendo aceito passivamente o que lhes fora oferecido, sem nenhuma resistência.
          Sobre os problemas do Coro Sinfônico que me fora incitado um partido, raciocinemos por analogia: Jonathan Swift satirizou a Inglaterra, na época da grande fome na Irlanda, propondo que os Irlandeses comessem seus próprios filhos para solução do problema. Digo-lhe: isso é uma ironia! Não levem essa sátira a sério, assim como ninguém a levou por conhecimento da gravidade que a simples idéia nos angustia.




*O autor do blog toma liberdade para trocar a palavra "Provincianismo" por "Provincialismo" na citação de Fernando Pessoa, a efeito de coerência na retórica.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Paulo Brasil e Orquestra Sinfônica de Goiânia sob a "regência" de Joaquim Jayme

por: Élider DiPaula
  Bom, (alias não gostaria nem por expressão utilizar essa palavra para introduzir minha resenha)… A respeito do concerto da Orquestra Sinfônica de Goiânia realizado no Teatro do Sesi sob a "regência" de Joaquim Jayme e o solista convidado Paulo Brasil, pode-se listar os diversos impasses. 
          Ao início fiquei me perguntando: Estava Paulo Brasil, um pupilo de Natalia Troull e Igo Koch, esbarrando nos primeiros compassos do Concerto n• 1 de Tchaikovsky por causa do piano, que, ainda novo por ser recém adquirido pelo teatro do SESI estaria com a mecânica ainda "dura", ou por que outro fator? Minha pergunta rapidamente se dissolve em uma destacada resposta: A regência duvidosa de Joaquim Jayme fez, além dos suntuosos desencontros na orquestra, uma grande perturbação ao que o pianista de muito valor e virtuosidade estava fazendo. Foi um desastre! 
          A montagem da orquestra, talvez, por questões acústicas resolveu espacializar os naipes de violinos colocando os segundos violinos a direita do piano, que, por infelicidade, ainda no primeiro movimento realçou o grande desencontro no "Tutti", depois do virtuoso solo do piano.
          No segundo movimento, tenho uma menção didática aos músicos: Tchaikovsky, um compositor expressivo do período romântico, não escreveu em seu repertório vasto, melodias truncadas por sétimas ou nonas paralelas - Isso vale ao "solo", que por alguma razão, a dois, no naipe dos violoncelos, fez esse erro ingênito mais notável - tal técnica foi utilizada por seus conterrâneos: Prokofiev, Shostakovich, Stravinsky… Enfim, isso não é maldade, é um fato!... Seguido pela interpretação jazzística da pequena cadenza, o pianista Paulo Brasil, já fadigado com as desafinações e de tentar se acompanhar aos desencontros da orquestra, parte para o terceiro movimento já com desconfiança. Não é pra menos, a maior falta de profissionalismo e competência ocorre logo no primeiro compasso desse terceiro movimento. O maestro deixa a entrada do tímpano a desejar, provocando uma turbilhão de sons causados pelas autônomas entradas dos outros músicos. O pianista se manteve heroicamente firme até compassos antes das famosas oitavas do "concerto de Tchaikovsky", ao qual não se conteve e se permitiu tocar a parte da redução da orquestra para ajudar os músicos a se manterem até a entrada dessa cadenza de oitavas - que, alias, ele a tocou fantasticamente. Um absurdo! Não sendo bastante, no final crescendo fortissimo das oitavas cromáticas acompanhadas da orquestra, o solista, já com um riso estampado, fazia uma respiração longa a cada tempo para que a orquestra conseguisse acompanhá-lo e ao menos terminarem juntos - me desculpe, Sr. Paulo Brasil, sua intenção foi boa, mas mesmo assim eles falharam em terminar juntos! 
  Me senti ofendido pelo pianista por tal incompetência arruinar seu concerto, que tenho certeza que foi muito bem preparado por ele, que confio muito na sua capacidade como pianista e credibilizo pelo seu muito bom gosto.
  Depois do fiasco do concerto para piano e orquestra n• 1 de Tchaikovsky e palmas insatisfatórias para um bis, a orquestra seguiu com a 4• Sinfonia de Brahms. 
         O público, não acostumado com um concerto de pouco menos de duas horas, já alterado e barulhento, recebe essa obra prima sinfônica escrita por Brahms em sua mais catastrófica interpretação. Se tocar junto, afinar e seguir o maestro já era impossível, imagine pensar em dinâmicas, linhas de frases e musicalidade no geral! As ondas das arcadas desencontradas relatavam os erros e as desafinações no naipe das cordas; as melodias interrompidas pelos solistas e a falta da noção do balanceamento para qual instrumento dominava o canto, foi torturador. Desafinações abruptas e inconseqüentes ao conhecimento de que: Se está errado, não prolongue o erro; foram cruciais para a efetivação do fiasco da noite.
         No último "acorde", histericamente, me levantei e deixei a sala de concerto à procura de algo menos agonizante para ouvir, antes que me ocorresse um ataque convulsivo causado pelo dopping de incompetência!

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Nega Lilu

por: Élider DiPaula
Intimidade, segredo, amor, releitura da lascivia, propensão contra o modelo ultrajante e o contato aderente aos sentimentos foram intimados no espetáculo de dança contemporânea Nega Lilu, realizado no espaço Quasar em estréia sexta-feira (11\11), com outra chamada no Sábado (12\11). O espetáculo, que sobrevem do conto criado pela jornalista Larissa Mundim, foi um sucesso eminente que precisou de mais uma apresentação hoje, domingo (13\11).... Eu, enfeitiçado com tanto sentimento patente na linguagem corporal e nas feições das talentosas bailarinas Valeska Gonçalves e Flora Maria só me exponho: "Sem Palavras".